SINOPSE:
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas
HIPERPLASIA ADRENAL CONGÊNITA (HAC)
(Portaria SAS/MS n° 16, de 15 de janeiro de 2.010)
CID-10: E25.0 (transtornos adrenogenitais congênitos associados à deficiência enzimática)
ETIOLOGIA
- Deficiências enzimáticas na síntese dos esteróides adrenais:
- Deficiência da 21-hidroxilase (CYP21A2): > 95% dos casos;
- Deficiência de 11-beta-hidroxilase (CYP11B1):
- 5% dos casos;
- Acúmulo dos precursores pregnenolona e progesterona, aumentando a síntese de desoxicorticosteróide (mineralocorticóide), resultando em hipertensão arterial.
- 20,22-desmolase (CYP11A1): rara;
- 17-alfa-hidroxilase (CYP17):
- Rara;
- Acúmulo dos precursores pregnenolona e progesterona, aumentando a síntese de desoxicorticosteróide (mineralocorticóide), resultando em hipertensão arterial.
- 3-beta-hidroxiesteróide-desidrogenase (HSD3B2): rara;
- Aldosterona sintase (CYP11B2): rara;
- Hiperplasia lipóide (StAR): rara.
QUADRO CLÍNICO
FORMAS CLÍNICAS:
- FORMA CLÁSSICA PERDEDORA DE SAL:
- Forma mais comum de HAC clássica (60% dos casos);
- RN do sexo feminino:
- Virilização da genitália externa (aumento do clitóris, fusão labial e formação do seio urogenital);
- RN do sexo masculino:
- genitália externa masculina.
- Todos os RNs:
- Geralmente apresentam crise adrenal nos primeiros dias de vida: depleção de volume, desidratação, hipotensão, taquicardia, vômitos, perda de peso, letargia, hiponatremia e hiperpotassemia.
- FORMA CLÁSSICA NÃO PERDEDORA DE SAL (VIRILIZANTE SIMPLES):
- RN sexo feminino:
- Virilização da genitália externa;
- RN sexo masculino:
- Genitália externa masculina. Diagnosticados em idade tardia por sinais de hiperandrogenismo: pubarca precoce, velocidade de crescimento aumentada, maturação óssea acelerada ou puberdade precoce.
- FORMA NÃO-CLÁSSICA (DE INÍCIO TARDIO):
- Forma 15 vezes mais frequente que a forma clássica de HAC;
- São assintomáticos ou apresentam sintomas tardiamente na infância ou adolescência.
- Sexo feminino:
- Hiperandrogenismo: aumento de clitóris, pubarca precoce, ciclos menstruais irregulares e hirsutismo.
- Sexo masculino:
- Geralmente assintomático.
- Eventualmente, há presença de tecido adrenal ectópico em testículo, com aumento de volume testicular e oligospermia.
FORMAS COM EXCESSO DE SÍNTESE MINERALOCORTICÓIDE:
- DEFICIÊNCIA DE 11-BETA-HIDROXILASE:
- Hipertensão;
- Hipopotassemia.
- 17-ALFA-HIDROXILASE:
- Hipertensão;
- Hipopotassemia.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
- DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA HAC FORMA CLÁSSICA:
- TESTE DO PEZINHO (Dosagem de 17-OH-progesterona):
- No RN, os valores de 17-OH-progesterona dependem da idade gestacional ao nascimento, da idade da coleta do material para exame, do peso ao nascimento e do sexo.
- O uso materno de glicocorticóide pode reduzir a concentração de 17-OH-progesterona e dar resultado falso-negativo.
- Valor de referência para ponto de corte para rastreamento de HAC varia de 15-40 ng/mL.
- Teste do pezinho positivo deve ser confirmado com dosagem de 17-OH-progesterona em sangue periférico.
- 17-OH-progesterona em sangue periférico:
- RN:
- 17-OH-progesterona < 10 ng/mL = afasta diagnóstico de HAC por deficiência de 21 hidroxilase;
- 17-OH-progesterona > 35 ng/mL = sugere fortemente o diagnóstico de HAC por deficiência de 21-hidroxilase;
- 17-OH-progesterona > 100 ng/mL = diagnóstico de HAC forma clássica por deficiência de 21-hidroxilase.
- Resultados de 17-OH-progesterona basal em sangue periférico indeterminado:
- Teste de estímulo com ACTH;
- Análise por biologia molecular.
- DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA HAC FORMA NÃO-CLÁSSICA:
- 17-OH-progesterona basal em sangue periférico:
- Crianças:
- 17-OH-progesterona > 0,8 ng/mL = sugere diagnóstico de HAC por deficiência de 21-hidroxilase;
- Mulheres adultas:
- 17-OH-progesterona (fase folicular do ciclo menstrual): > 2 ng/mL = sugere o diagnóstico de HAC por deficiência de 21-hidroxilase.
- Teste de estímulo com ACTH (250 mg):
- 17-OH-progesterona > 10 ng/mL = sugere o diagnóstico de HAC por deficiência de 21-hidroxilase.
EXCLUSÃO DO TRATAMENTO:
- Pacientes com resultado de teste do pezinho positivo, sem exame de 17-OH-progesterona em sangue periférico confirmatório;
- Contraindicação ou intolerância aos medicamentos especificados;
- Pacientes do sexo masculino com HAC forma não clássica e assintomáticos;
- Os pacientes com sexo feminino e forma não clássica devem ser tratadas conforme o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Síndrome dos Ovários Policísticos.
TRATAMENTO DA HAC
- GLICOCORTICÓIDES:
- INDICAÇÃO:
- HAC clássica perdedora ou não-perdedora de sal:
- 17-OH-progesterona em sangue periférico basal ou após estímulo com ACTH > 100 ng/mL.
- MEDICAMENTOS GLICOCORTICÓIDES:
- Dexametasona:
- Apresentações:
- Elixir de 0,1 mg/mL;
- Comprimido: 4 mg;
- Solução injetável: 4 mg/mL.
- Posologia:
- Dose inicial:
- Crianças: 0,27 mg/m2/dia, VO ou IV, 1 vez ao dia;
- Adultos: 0,25-0,75 mg/dia, VO ou IV, 1 vez ao dia.
- Ajuste de dose: a dose deve ser ajustada para a menor dose possível para manter controlados os níveis de andrógenos.
- Prednisona:
- Apresentações:
- Comprimidos: 5 e 20 mg;
- Posologia:
- Dose inicial:
- Crianças: 2,5-4,0 mg/m2/dia, VO, 1 vez ao dia;
- Adultos: 2,5-7,5 mg/dia, VO, 1 vez ao dia.
- Ajuste de dose: a dose deve ser ajustada para a menor dose possível para manter controlados os níveis de andrógenos.
- Prednisolona:
- Apresentação:
- Solução oral: 1,34 mg/mL;
- Posologia:
- Dose inicial:
- Crianças: 2-3 mg/m2/dia, VO, 1 vez ao dia;
- Adultos: 2,5-7,5 mg/dia, VO, 1 vez ao dia.
- Ajuste de dose: a dose deve ser ajustada para a menor dose possível para manter controlados os níveis de andrógenos.
- Hidrocortisona:
- Apresentação:
- Solução injetável: 100 e 500 mg.
- Posologia:
- Dose inicial:
- Crianças: 12-18 mg/m2/dia (em estresse ou crise adrenal: 60-100 mg/m2/dia), VO ou IV, 2-4 vezes ao dia;
- Adultos: 20 mg/dia (em estresse ou crise adrenal: 200-300 mg/dia), VO ou IV, 2 a 4 vezes ao dia.
- Ajuste de dose: a dose deve ser ajustada para a menor dose possível para manter controlados os níveis de andrógenos. Manter nível de 17-OH-progesterona entre 4-12 ng/mL e androstenediona e testosterona total em valores pouco acima do limite superior do valor de referência.
Fonte: DORA et al, 2.010.
- MINERALOCORTICÓIDES:
- INDICAÇÃO:
- HAC perdedora de sal com
- 17-OH-progesterona em sangue periférico basal ou após estímulo com ACTH > 100 ng/mL; associado com
- Hiponatremia (sódio sérico < 135 mEq/L) e Hiperpotassemia (Potássio sérico > 5,5 mEq/L); associado com
- Renina plasmática > valor de referência e Aldosterona < valor de referência.
- MEDICAMENTO MINERALOCORTICÓIDE:
- Fludrocortisona:
- Apresentação:
- Comprimido: 0,1 mg.
- Posologia:
- Crianças < 6 meses: ≥ 0,1 mg/dia, (associada a 1-3 g de sal suplementar),VO, 1 vez ao dia.
- Crianças 6-12 meses: reduzir a dose gradualmente até atingir a dose de 0,1 mg/dia, VO, 1 vez ao dia.
- Crianças: 0,1 mg/dia (variação: 0,05-0,3 mg/dia), VO, 1 vez ao dia;
- Adultos: 0,1 mg/dia (variação: 0,05-0,4 mg/dia), VO, 1 vez ao dia.
- O ajuste da dosagem é feita com o objetivo de normalizar a volemia e corrigir os distúrbios do sódio e potássio.
Fonte: DORA et al, 2.010.
MONITORIZAÇÃO
O acompanhamento deve ser feito a cada 3 meses no primeiro ano de vida e, em crianças com tratamento adequado, a cada 4-6 meses.
AJUSTE DA DOSE DE GLICOCORTICÓIDE:
- Dosar 17-OH-progesterona, Androstenediona e Testosterona total a cada 3 meses no primeiro ano de vida e a cada 4-6 meses nas crianças com tratamento adequado. Manter nível de 17-OH-progesterona entre 4-12 ng/mL e androstenediona e testosterona total em valores pouco acima do limite superior do valor de referência.
- Avaliar sinais clínicos de hipercortisolismo: fragilidade capilar, giba, estrias violáceas, fácies de lua cheia, fraqueza muscular proximal e hipertensão.
- Avaliar velocidade de crescimento e maturação óssea (Rx de mãos e punhos para avaliação da idade óssea deve ser realizado anualmente).
AJUSTE DA DOSE DE MINERALOCORTICÓIDE:
- Dosar Renina plasmática, sódio e potássio séricos a cada 3 meses no primeiro ano de vida e a cada 4-6 meses em crianças com tratamento adequado.
- Objetivo: normalizar o sódio sérico (135-145 mEq/L) e o potássio sérico (3,5-5,5 mEq/L) e não suprimir a renina plasmática, mantendo a pressão arterial normal. Supressão da renina plasmática e hipertensão arterial indicam excesso de mineralocorticóide, sendo necessária a revisão da dose de fludrocortisona.
TEMPO DE TRATAMENTO
O tratamento com glicocorticóides e mineralocorticóides deve ser feito por toda a vida em pacientes com HAC forma clássica.
OBSERVAÇÕES
- Os pacientes diagnosticados com HAC forma clássica devem portar consigo identificação (pulseira, corrente ou cartão) que informe sua condição e que contenha instruções de medidas a serem tomadas.
- Os pacientes com HAC adequadamente tratados atingem estatura final cerca de 1,5 desvio-padrão (aproximadamente 10 cm) abaixo da estatura prevista.
TERMO DE ESCLARECIMENTO E RESPONSABILIDADE - TER
É obrigatória a informação ao paciente ou a seu responsável legal dos potenciais riscos, benefícios e efeitos adversos relacionados ao uso dos medicamentos preconizados neste protocolo. O TER é obrigatório ao se prescrever medicamento do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica.
FLUXOGRAMA DE TRATAMENTO DA HAC
FLUXOGRAMA DE DISPENSAÇÃO DE FLUDROCORTISONA
LINKS ÚTEIS
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA