sábado, 20 de fevereiro de 2016

ZIKA VÍRUS (ZIKAV)


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ZIKA VÍRUS (ZIKAV)


CID-X: A92.8 (outras febres virais especificadas transmitidas por mosquitos)


ETIOLOGIA

    O Zika vírus (ZICAV) é um arbovírus (vírus transmitido por artrópodes)  RNA vírus do gênero Flavivirus, família Flaviviridae. Há duas linhagens do vírus: Africana e Asiática1,2.
    O ZIKAV foi isolado pela primeira vez em 1947, a partir de macacos Rhesus utilizados como sentinelas para detecção de febre amarela na floresta de Zika, em Uganda2.


HISTÓRICO

    Embora a primeira evidência de infecção humana pelo ZIKAV remonte 1952 em amostras de soro humano do leste da África, o ZIKAV somente chamou a atenção a partir de 2007, após um surto na ilha de Yap e em outras ilhas próximas dos Estados Federados da Micronésia2. Durante o surto, cerca de 70% dos habitantes da ilha de Yap foram afetados2.
    Entre outubro de 2013 e 7 de fevereiro de 2014, 8.264 casos suspeitos de febre pelo ZIKAV foram notificados na Polinésia Francesa e, entre 764 amostras analisadas, 53,1% foram positivas para esse vírus por biologia molecular2. Foram identificados 38 casos de síndrome de Guillain-Barré (SGB) após infecção pelo ZIKAV, 25 pacientes tiveram complicações neurológicas (encefalite, meningoencefalite, parestesia, paralisia facial e mielite) e 7 pacientes tiveram outras complicações (4 apresentaram trombocitopenia; 2, complicações oftalmológicas; e 1, complicação cardíaca)2.
    Em 2013, foram detectados casos de febre pelo ZIKAV na Nova Caledônia, importados da Polinésia Francesa, ocorrendo os primeiros casos autóctones em meados de janeiro de 2014. No início de fevereiro de 2014, foi declarado um surto com um total de 1385 casos confirmados laboratorialmente, incluindo 35 casos importados2.
    Em 28 de fevereiro de 2014, foi identificado o primeiro caso de ZIKAV no Chile, em uma criança de 11 anos, residente da Ilha de Páscoa2.


EPIDEMIOLOGIA

    O ZIKAV é endêmico no leste o oeste do continente Africano2. Em 1966, o vírus de disseminou para o continente asiático2.
    Atualmente, há circulação esporádica de ZIKAV na África (Nigéria, Tanzânia, Egito, África Central, Serra Leoa, Gabão, Senegal, Costa do Marfim, Camarões, Etiópia, Quênia, Somália e Burkina Faso), Ásia (Malásia, Índia, Paquistão, Filipinas, Tailândia, Vietnã, Camboja, Índia, Indonésia) e Oceania (Micronésia, Polinésia Francesa, Nova Caledônia/França e Ilhas Cook)2. Casos importados de febre pelo vírus Zika foram descritos no Canadá, Alemanha, Itália, Japão, Estados Unidos, Austrália e Chile2.

Figura 1: Distribuição do ZIKAV no mundo2.

    Epidemiologia da Epidemia de ZIKAV na Polinésia Francesa (2013-2014):

Figura 2: Evolução semanal do número de suspeitos de infecção por ZICAV na Polinésia Francesa de 30/10/2013 a 14/02/2014 (Epidemia ainda em atividade)3.

Figura 3:Número de casos com complicações neurológicas por dia de admissão hospitalar na Polinésia Francesa de 2013-2014 (n=73)3.


TRANSMISSÃO

Os primatas não humanos são considerados reservatórios silvestres do ZIKAV2.    Na África Oriental, o vírus é mantido em ciclo silvestre nas florestas tropicais, com ciclo de epizootia envolvendo primatas não humanos e mosquitos do gênero Aedes spp2. Na África Ocidental e no sudeste Asiático, além de o vírus ter sidoisolado em macacos (Cercopithecus aethiops e Erytrocebus patas), circula em várias espécies de animais vertebrados (orangotangos, elefantes, zebras, búfalos e roedores)2.
O ZICAV é transmitido por vetores, acidentes em laboratório, transmissão vertical (perinatal), via sexual e via transfusional1,2.
Os principais vetores para o ZIKAV são os mosquitos da família Culicidae e do gênero Aedes (transmissão silvestre ou urbana)2,3: Aedes aegypti (transmissão urbana), Aedes polynensiensis, Aedes albopictus, Aedes hensilli3.
  • África: A. africanus e outros;
  • Malásia: A. aegypti;
  • Polinésia Francesa: A. aegypti (vetor urbano)
  • Gabão: A. albopictus.

    Período de incubação extrínseco para ZIKAV em mosquitos: 10 dias2.


QUADRO CLÍNICO

    Período de incubação: 3 a 12 dias3.
Mais de 80% das pessoas infectadas não desenvolvem manifestações clínicas (forma assintomática)1,2.
Forma sintomática:
Síndrome dengue-like: artralgia, edema de extremidades, febre leve, cefaléia,dor retro-orbital, hiperemia conjuntival, exantema maculopapular com progressão descendente da face aos membros e frequentemente pruriginosa, vertigem, mialgia e manifestações gastrointestinais3.
A doença febril aguda é autolimitada, com duração de 3 a 7 dias, geralmente sem complicações graves1,2. Há surgimento de exantema maculopapular pruriginoso, febre intermitente, hiperemia conjuntival não purulenta e não pruriginosa, artralgia (que pode persistir por aproximadamente um mês), mialgia e cefaléia1,2. Menos frequentemente, há edema, dor de gargante, tosse, vômitos e hematospermia1,2. Em sua forma mais grave, pode ocorre síndrome de Guillain-Barré (SGB), principalmente em locais com circulação simultânea do vírus da dengue1,2.
    Em relação às manifestações clínicas de outras doenças exantemáticas (dengue, chikungunya e sarampo), a febre pelo ZIKAV apresenta mais exantema e hiperemia conjuntival e menor alteração nos leucócitos e trombócitos2.

Figura 2: diagnóstico diferencial entre dengue, chikungunya e Zika vírus2.


DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

  • HEMOGRAMA: discreta a moderada leucopenia e trombocitopenia2;
  • Desidrogenase láctica sérica (DHL): ligeiramente aumentada2;
  • Gama glutamiltransferase (gama-GT): ligeiramente aumentada2;
  • Proteína C reativa: ligeiramente aumentada2;
  • Fibrinogênio: ligeiramente aumentado2;
  • Ferritina: ligeiramente aumentada2;
  • Diagnóstico laboratorial específico do ZIKAV: detecção do RNA viral a partir de espécimes clínicos2.
    • O período virêmico é curto, permitindo a detecção direta do vírus em até 3 a 5 dias após o início dos sintomas: a amostra deve ser coletada até o 4° dia após início dos sintomas3.
    • os ácidos nucléicos do vírus foram detectados em humanos entre 1 e 11 dias após o início dos sintomas e o vírus foi isolado em primata não humano até 9 dais após inoculação experimental2.
    • No Brasil, o diagnóstico é feito pela Reação em Cadeia da Polimerase via Transcriptase Reversa (RT-PCR)2.
    • Testes sorológicos (Elisa ou imunofluorescência): CDC desenvolveu uma técnica de ELISA para detectar anticorpos específicos IgM anti ZIKAV, porém apresenta frequentemente reação cruzada com outros flavivírus (dengue e febre amarela), dificultando o diagnóstico. Além disso, na fase aguda, tanto IgM quanto IgG estão em baixas concentrações, de modo a dificultar a confirmação diagnóstica. Pode ser utilizada uma técnica complementar de soroneutralização (Teste de Neutralização em Redução de Placas - PRNT) que amplifica em 4 vezes a titulação de anticorpos inicial3. Não há kits comerciais disponíveis para a detecção de anticorpos contra o ZIKAV3.


Figura 3: Oportunidade de detecção do ZIKAV segundo a técnica laboratorial (isolamento viral, reação em cadeia da polimerase via transcriptase reversa (RT-PCR) e sorologia (IgM/IgG)2.



TRATAMENTO

    Não existe tratamento específico. A dor e a febre devem ser controlados com o uso de acetaminofeno (paracetamol) ou dipirona. As erupções pruriginosas podem ser tratadas com antihistamínicos.
    Não usar ácido acetilsalicílico ou outros antiinflamatórios.
    “Diante da inexistência de kits comerciais para realização de sorologia específica para ZIKAV no Brasil, como ocorre com a dengue, é importante destacar que, neste momento, as realizações dos diagnósticos clínico e diferencial com dengue e febre de chikungunya são as principais ações a serem adotadas. Os casos suspeitos devem ser tratados como dengue, devido à sua maior gravidade.2

   
IMUNIZAÇÃO

    Não há vacina para prevenir infecção pelo ZIKAV2.



PREVENÇÃO

    A prevenção da infecção pelo ZIKAV depende da proteção individual contra picadas e da erradicação dos mosquitos vetores (prevenção anti-vetorial)3. A prevenção em nível comunitário consiste na redução do número de mosquitos pela redução dos locais de postura dos ovos (pires de vasos de plantas, fossas, reservatórios de água, pneus abandonados, etc.), secando-os, isolando-os ou tratando-os com inseticidas3. Deltametrina é o único inseticida com resultado satisfatório em aplicação aerossol3. Proteção individual inclui: vestes longas e com cores claras, repelentes de pele e mosquiteiros nas camas (protegendo bebês e pacientes acamados).


NOTIFICAÇÃO

Os casos confirmados de Zika vírus devem ser comunicados/notificados em até 24 horas, conforme Portaria MS nº 1.271, de 6 de junho de 2014. Reforça-se que a notificação realizada pelos meios de comunicação não isenta o profissional ou serviço de saúde de realizar o registro dessa notificação nos instrumentos estabelecidos, utilizando a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde – CID A92.8 (acesso a cópia da ficha de notificação/conclusão individual: http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/novo/Documentos/SinanNet/fichas/Ficha_conclusao.pdf)4.
Em caso de dúvida, entre em contato com a Vigilância Epidemiológica das Secretarias Estaduais ou Municipais de Saúde4.


FONTE:
    1. SITE: PROFESSOR LUIZ HORTA


    LITERATURA COMPLEMENTAR

          
      





    Uso de repelentes na gestação - ANVISA


    Site de Legislação em Saúde no Brasil

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