segunda-feira, 24 de outubro de 2016

HIPERPROLACTINEMIA


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SINOPSE

HIPERPROLACTINEMIA

(Portaria SMS/MS n° 208, de 23 de Abril de 2.010)


CID-10: E22.1 (Hiperprolactinemia)


ETIOLOGIA
  • Etiologia Fisiológica:
    • Gravidez;
    • Amamentação;
  • Medicamentosa:
    • Neurolépticos:
      • Fenotiazinas;
      • Butirofenonas;
      • Risperidona;
      • Sulpirida.
    • Antidepressivos tricíclicos:
      • Amitriptilina;
      • Clomipramina;
    • Inibidores da monoaminoxidase;
    • Anti-hipertensivos:
      • Verapamil;
      • Reserpina;
      • Metildopa.
    • Domperidona;
    • Metoclopramida;
    • Inibidores seletivos da captação de serotonina;
    • Contraceptivos orais.
  • Prolactinomas e adenomas hipofisários produtores de prolactina: Em mulheres, mais de 90% dos prolactinomas são tumores intrasselares pequenos que raramente aumentam de tamanho. Em homens e crianças, geralmente são macroadenomas.
  • Hipotireoidismo: Hiperprolactinemia é encontrada em 40% dos pacientes com hipotireoidismo;
  • Síndrome dos ovários policísticos (SOP):  hiperprolactinemia está presente em 30% dos casos de SOP.
  • Doença de Addison;
  • Cirrose hepática;
  • Insuficiência renal;
  • Hiperprolactinemia idiopática;
  • Macroprolactinemia: resulta da ligação anômala da prolactina a imunoglobulinas circulantes, formando um complexo de alto peso molecular. Essa ligação reduz a atividade biológica da prolactina, apresentando-se com hiperprolactinemia assintomática. Para diagnosticá-la deve ser realizada pelo TESTE DE PRECIPITAÇÃO ou CROMATOGRAFIA LÍQUIDA EM COLUNA DE FILTRAÇÃO POR GEL.;
  • “Efeito gancho”: caracteriza-se pela leitura de valores falsamente baixos de prolactina em casos de macroprolactinomas que secretam grandes quantidades de hormônio. Deve ser suspeitado em indivíduos com macroadenomas hipofisários e valores não muito elevados de prolactina (< 200 ng/mL). Para excluí-lo, deve ser realizada a dosagem da PROLACTINA DILUÍDA.


CLASSIFICAÇÃO
  • Microadenomas: < 10 mm de diâmetro;
  • Macroadenomas: ≥ 10 mm de diâmetro.


QUADRO CLÍNICO
  • Galactorréia;
  • Distúrbios menstruais (oligomenorréia e amenorréia);
  • Impotência, disfunção erétil, infertilidade e diminuição da libido nos homens.;
  • Redução da densidade mineral óssea;
  • Efeito de massa tumoral:
    • Hipopituitarismo;
    • Manifestações neurológicas:
      • cefaléia;
    • Manifestações oftalmológicas:
      • alteração nos campos visuais.


DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
  • Macroadenomas hipofisários;
  • Pseudoprolactinomas: lesões selares ou perisselares que provocam aumento da prolactina sérica por compressão da haste hipofisária e não por aumento da produção de prolactina;
  • Hipotireoidismo;
  • Insuficiência hepática;
  • Insuficiência renal.


DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
  • PROLACTINA SÉRICA (ensaio de quimioluminescência e imunorradiométrico):
    • Normal:
      • Homens: < 20 ng/mL;
      • Mulheres: < 25 ng/mL.
    • Alterado:
      • < 100 ng/mL:
        • Uso de medicamentos psicoativos;
        • Uso de estrógenos;
        • Idiopático;
        • Microprolactinomas.
      • > 200 ng/mL:
        • Prolactinomas;
      • > 250 ng/mL:
        • Macroprolactinomas.
  • TESTE DA PRECIPITAÇÃO: diagnostica a presença de macroprolactinemia, baseando-se na insolubilidade das imunoglobulinas após exposição a concentrações definidas de polietilenoglicol (PEG). Após o procedimento, recuperações menores que 30% da prolactina estabelecem o diagnóstico de macroprolactinemia, enquanto recuperações maiores que 65% o afastam. Valores de recuperação entre 30 e 65% devem ser submetidos à CROMATOGRAFIA LÍQUIDA EM COLUNA POR FILTRAÇÃO POR GEL.
  • CROMATOGRAFIA LÍQUIDA EM COLUNA POR FILTRAÇÃO POR GEL: indicada para o diagnóstico de macroprolactinemia quando o TESTE DA PRECIPITAÇÃO encontrar uma taxa de recuperação entre 30 e 65%.
  • DOSAGEM DE PROLACTINA DILUÍDA: utilizada para o diagnóstico do “efeito gancho”. Nos pseudoprolactinomas (lesões selares e perisselares que provocam hiperprolactinemia por compressão da haste hipofisária e não por produção excessiva de prolactina pela lesão), a prolactina diluída não mostrará valores elevados. Nos macroprolactinomas com “efeito gancho”, a diluição da amostra resultará em valores elevados de prolactina sérica.
  • EXAMES COMPLEMENTARES:
    • TSH, T4 livre
    • TGO, TGP;
    • Uréia, Creatinina;


EXAMES DE IMAGEM
  • RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR DE HIPÓFISE: pesquisar prolactinoma. O resultado normal não afasta a possibilidade de microprolactinoma.
  • TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE HIPÓFISE: é menos efetiva que a RMN para a identificação de tumores, particularmente dos microprolactinomas, mas pode ser útil na impossibilidade ou contraindicação da realização da RMN, particularmente na suspeita de macroprolactinoma.


CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
  • CRITÉRIO OBRIGATÓRIO:
    • Prolactina sérica: superior ao limite de normalidade para o método de dosagem utilizado;
  • CRITÉRIOS ADICIONAIS (presença de, pelo menos, 1 desses critérios):
    • Ressonância Magnética Nuclear ou Tomografia Computadorizada de hipófise demonstrando macroprolactinoma;
    • Ressonância Magnética Nuclear de hipófise demonstrando microprolactinoma associado à clínica de hiperprolactinemia ou hipogonadismo;
    • Ressonância Magnética Nuclear de hipófise normal, associada à clínica de hiperprolactinemia ou hipogonadismo.


CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
  • Hipotireoidismo primário como causa da hiperprolactinemia;
  • Hiperprolactinemia secundária a medicamento;
  • Gravidez como causa de hiperprolactinemia;
  • Insuficiência renal ou hepática;
  • Hipersensibilidade aos medicamentos preconizados;
  • Hiperprolactinemia por compressão da haste hipofisária (pseudoprolactinoma).


TRATAMENTO
  • HIPERPROLACTINEMIA MEDICAMENTOSA:
    • Suspender ou substituir o medicamento por fármaco alternativo:
      • Quando se tratar de neurolépticos ou antidepressivos, deve-se discutir com o psiquiatra a possibilidade da troca por um outro medicamento que não cause hiperprolactinemia, ou a redução da dose administrada do medicamento em questão. O uso de agonista dopaminérgico deve se limitar a casos bem específicos, quando não há alternativas terapêuticas, sempre de comum acordo e acompanhamento com o psiquiatra.
      • Para pacientes sintomáticos, em que o medicamento não pode ser suspenso, uma alternativa a ser considerada é a reposição de estrógeno/progestestona ou, ainda, bifosfonado, se houver osteoporose, de acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Osteoporose.
  • MICROPROLACTINOMA ou HIPERPROLACTINEMIA IDIOPÁTICA:
    • Assintomáticos; mulheres com menstruação regular, galactorréia leve e prole constituída; e mulheres menopausadas com galactorréia leve:
      • Geralmente não necessitam tratamento, apenas acompanhamento com monitorização frequente da prolactinemia para detectar aumento de massa, a cada 6 meses nos primeiros 2 anos e, após, anualmente;
    • Sintomáticos:
      • Objetivo: restaurar a função gonadal e sexual por meio da normalização da prolactinemia.
    • TRATAMENTO DE ESCOLHA DOS MICROPROLACTINOMAS:
      • Tratamento medicamentoso com agonista dopaminérgico:
        • BROMOCRIPTINA:
          • Uso reservado para mulheres hiperprolactinêmicas com infertilidade e desejo de engravidar (maior experiência com uso do medicamento em gestantes);
          • Posologia:
            • Dose inicial: 1,25 mg/dose,VO, após o jantar ou na hora de dormir, 1 vez ao dia, durante 1 semana. Após 1 semana, aumentar a dose para 1,25 mg/dose, VO,  2 vezes ao dia (depois do café da manhã e depois do jantar/hora de dormir). Incrementos da dose de 2,5 mg podem ser realizados a cada 3-7 dias, até chegar à dose desejada, que varia de 5-15 mg/dia (geralmente não ultrapassa 7,5 mg/dia);
            • Manutenção: 2,5-15 mg/dia (geralmente < 7,5 mg/dia), VO, 2-3 vezes ao dia.
          • Apresentação:
            • Comprimidos: 2,5 mg.
          • Efeitos adversos: náusea, vômitos, cefaléia, tontura e hipotensão postural.
        • CABERGOLINA:
          • Agonista específico do receptor D2 da dopamina;
          • Medicamento de primeira escolha para a maioria dos pacientes (menos efeitos colaterais)
          • Posologia:
            • Dose inicial: 0,25 mg/dose, VO, 2 vezes por semana ou 0,5 mg, VO, 1 vez por semana. Incrementos de 0,5-1,0 mg, com intervalo de no mínimo 4 semanas, conforme necessidade, podem ser realizados.  Após o incremento, a dose deve ser administrada 2 vezes por semana.
            • Manutenção: 1-2 mg/semana (eventualmente > 3 mg/semana até máximo de 4,5 mg/semana), VO, 2 vezes por semana.
          • Apresentação:
            • Comprimidos: 0,5 mg.
  • MACROPROLACTINOMA:
    • Objetivo: controle hormonal e redução com controle tumoral.
    • TRATAMENTO DE ESCOLHA PARA OS MACROPROLACTINOMAS:
      • Tratamento medicamentoso com agonista dopaminérgico (mesmo tratamento descrito acima).
      • Durante o tratamento medicamentoso, após normalizados os níveis de prolactina sérica por pelo menos 2 anos e o tumor reduzido em mais de 50% do tamanho inicial, a dose do agonista dopaminérgico pode ser reduzida gradativamente até a menor dose possível. Se o paciente apresentar níveis normais de prolactina após 3 anos de uso do agonista dopaminérgico, associado a marcante redução tumoral, pode-se tentar a suspensão do fármaco. Após a suspensão do fármaco, a dosagem da prolactina sérica deve ser realizada a cada 3 meses no primeiro ano de suspensão do agonista e, após, anualmente.
    • MACROPROLACTINOMAS MAIORES E MAIS INVASIVOS:
      • Tratamento de primeira escolha é o medicamentoso (mesmo tratamento descrito acima);
    • MACROPROLACTINOMAS QUE NÃO RESPONDEM AO TRATAMENTO MEDICAMENTOSO (Ausência de redução da sintomatologia, da hiperprolactinemia ou sem melhora do déficit visual (10%):
      • Tratamento cirúrgico
    • TUMORES AGRESSIVOS OU PROLACTINOMAS MALIGNOS NÃO RESPONSIVOS AOS AGONISTAS DOPAMINÉRGICOS E À CIRURGIA:
      • Tratamento radioterápico.
  • DEMAIS CASOS:
    • Somente necessitam de tratamento os pacientes com sintomatologia decorrente de hiperprolactinemia (infertilidade, galactorréia relevante, alterações do desenvolvimento puberal ou hipogonadismo de longa data).
    • Mulheres com hiperprolactinemia leve, ciclos menstruais regulares e desejo de engravidar necessitarão também de tratamento.


TRATAMENTO EM SITUAÇÕES ESPECIAIS
  • GESTANTES:
    • Todas as gestantes, independentemente do agonista dopaminérgico em uso, devem ser expostas ao menor tempo de uso, principalmente no primeiro trimestre da gestação.
    • GESTANTES COM MICROPROLACTINOMA OU HIPERPROLACTINEMIA IDIOPÁTICA: o agonista dopaminérgico deve ser suspenso quando confirmada a gravidez.
    • GESTANTES COM MACROPROLACTINOMAS: manter o tratamento com agonista dopaminérgico (bromocriptina preferivelmente à cabergolina) nos tumores com maior chance de crescimento ou suspender o medicamento e monitorizar cuidadosamente a paciente (principalmente em relação aos sintomas de expansão tumoral: cefaléia ou defeito de campo visual).


TEMPO DE TRATAMENTO
  • O tempo mínimo de tratamento dopaminérgico é de, pelo menos, 2 anos.
  • A suspensão do medicamento pode ser segura em pacientes com longo tempo de normalização da prolactina sérica e sem evidência de tumor na Ressonância Magnética Nuclear.


MONITORIZAÇÃO
  • MICROPROLACTINOMA OU HIPERPROLACTINEMIA IDIOPÁTICA:
    • PROLACTINA SÉRICA: uma vez normalizado os níveis séricos de prolactina, a dosagem de controle é anual. Se os níveis de prolactina sérica não se normalizar, deve-se aumentar a dose do agonista dopaminérgico prescrito e, na ausência de resposta, substituí-lo por outro agonista dopaminérgico.
  • MACROPROLACTINOMA:
    • A redução tumoral pode ser vista em 1-2 semanas após introdução do agonista dopaminérgico (mas pode ser mais tardia em alguns pacientes);
    • PROLACTINA SÉRICA: dosar 2-3 meses após iniciado o tratamento com agonista dopaminérgico e repetir periodicamente de acordo com a evolução do paciente.
    • RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR: deve ser realizada 2-3 meses após iniciado o tratamento com agonista dopaminérgico e repetir periodicamente de acordo com a evolução do paciente.
  • APÓS A SUSPENSÃO DO TRATAMENTO COM AGONISTA DOPAMINÉRGICO:
    • PROLACTINA SÉRICA: deve ser dosada a cada 3 meses no primeiro ano de suspensão do agonista e, após, anualmente.
    • RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR DA HIPÓFISE: após a suspensão do agonista dopaminérgico, deve ser realizada a Ressonância Magnética Nuclear se os níveis de prolactina sérica voltarem a ficar acima do limite superior da normalidade.
  • ECOCARDIOGRAMA TRANSTORÁCICO: deve ser realizado antes do início do tratamento com CABERGOLINA e durante o seguimento, a critério médico, visando detectar valvopatias, calcificação valvar aórtica e regurgitação tricúspide.


TERMO DE ESCLARECIMENTO E RESPONSABILIDADE (TER)
    É obrigatório informar ao paciente ou a seu responsável legal dos potenciais riscos, benefícios e efeitos adversos relacionados ao uso dos medicamentos preconizados neste protocolo. O TER é obrigatório ao se prescrever medicamento do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF).

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 


Site de Legislação em Saúde no Brasil





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