SINOPSE
HIPERPROLACTINEMIA
(Portaria SMS/MS n° 208, de 23 de Abril de 2.010)
CID-10: E22.1 (Hiperprolactinemia)
ETIOLOGIA
- Etiologia Fisiológica:
- Gravidez;
- Amamentação;
- Medicamentosa:
- Neurolépticos:
- Fenotiazinas;
- Butirofenonas;
- Risperidona;
- Sulpirida.
- Antidepressivos tricíclicos:
- Amitriptilina;
- Clomipramina;
- Inibidores da monoaminoxidase;
- Anti-hipertensivos:
- Verapamil;
- Reserpina;
- Metildopa.
- Domperidona;
- Metoclopramida;
- Inibidores seletivos da captação de serotonina;
- Contraceptivos orais.
- Prolactinomas e adenomas hipofisários produtores de prolactina: Em mulheres, mais de 90% dos prolactinomas são tumores intrasselares pequenos que raramente aumentam de tamanho. Em homens e crianças, geralmente são macroadenomas.
- Hipotireoidismo: Hiperprolactinemia é encontrada em 40% dos pacientes com hipotireoidismo;
- Síndrome dos ovários policísticos (SOP): hiperprolactinemia está presente em 30% dos casos de SOP.
- Doença de Addison;
- Cirrose hepática;
- Insuficiência renal;
- Hiperprolactinemia idiopática;
- Macroprolactinemia: resulta da ligação anômala da prolactina a imunoglobulinas circulantes, formando um complexo de alto peso molecular. Essa ligação reduz a atividade biológica da prolactina, apresentando-se com hiperprolactinemia assintomática. Para diagnosticá-la deve ser realizada pelo TESTE DE PRECIPITAÇÃO ou CROMATOGRAFIA LÍQUIDA EM COLUNA DE FILTRAÇÃO POR GEL.;
- “Efeito gancho”: caracteriza-se pela leitura de valores falsamente baixos de prolactina em casos de macroprolactinomas que secretam grandes quantidades de hormônio. Deve ser suspeitado em indivíduos com macroadenomas hipofisários e valores não muito elevados de prolactina (< 200 ng/mL). Para excluí-lo, deve ser realizada a dosagem da PROLACTINA DILUÍDA.
CLASSIFICAÇÃO
- Microadenomas: < 10 mm de diâmetro;
- Macroadenomas: ≥ 10 mm de diâmetro.
QUADRO CLÍNICO
- Galactorréia;
- Distúrbios menstruais (oligomenorréia e amenorréia);
- Impotência, disfunção erétil, infertilidade e diminuição da libido nos homens.;
- Redução da densidade mineral óssea;
- Efeito de massa tumoral:
- Hipopituitarismo;
- Manifestações neurológicas:
- cefaléia;
- Manifestações oftalmológicas:
- alteração nos campos visuais.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
- Macroadenomas hipofisários;
- Pseudoprolactinomas: lesões selares ou perisselares que provocam aumento da prolactina sérica por compressão da haste hipofisária e não por aumento da produção de prolactina;
- Hipotireoidismo;
- Insuficiência hepática;
- Insuficiência renal.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
- PROLACTINA SÉRICA (ensaio de quimioluminescência e imunorradiométrico):
- Normal:
- Homens: < 20 ng/mL;
- Mulheres: < 25 ng/mL.
- Alterado:
- < 100 ng/mL:
- Uso de medicamentos psicoativos;
- Uso de estrógenos;
- Idiopático;
- Microprolactinomas.
- > 200 ng/mL:
- Prolactinomas;
- > 250 ng/mL:
- Macroprolactinomas.
- TESTE DA PRECIPITAÇÃO: diagnostica a presença de macroprolactinemia, baseando-se na insolubilidade das imunoglobulinas após exposição a concentrações definidas de polietilenoglicol (PEG). Após o procedimento, recuperações menores que 30% da prolactina estabelecem o diagnóstico de macroprolactinemia, enquanto recuperações maiores que 65% o afastam. Valores de recuperação entre 30 e 65% devem ser submetidos à CROMATOGRAFIA LÍQUIDA EM COLUNA POR FILTRAÇÃO POR GEL.
- CROMATOGRAFIA LÍQUIDA EM COLUNA POR FILTRAÇÃO POR GEL: indicada para o diagnóstico de macroprolactinemia quando o TESTE DA PRECIPITAÇÃO encontrar uma taxa de recuperação entre 30 e 65%.
- DOSAGEM DE PROLACTINA DILUÍDA: utilizada para o diagnóstico do “efeito gancho”. Nos pseudoprolactinomas (lesões selares e perisselares que provocam hiperprolactinemia por compressão da haste hipofisária e não por produção excessiva de prolactina pela lesão), a prolactina diluída não mostrará valores elevados. Nos macroprolactinomas com “efeito gancho”, a diluição da amostra resultará em valores elevados de prolactina sérica.
- EXAMES COMPLEMENTARES:
- TSH, T4 livre
- TGO, TGP;
- Uréia, Creatinina;
EXAMES DE IMAGEM
- RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR DE HIPÓFISE: pesquisar prolactinoma. O resultado normal não afasta a possibilidade de microprolactinoma.
- TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE HIPÓFISE: é menos efetiva que a RMN para a identificação de tumores, particularmente dos microprolactinomas, mas pode ser útil na impossibilidade ou contraindicação da realização da RMN, particularmente na suspeita de macroprolactinoma.
CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
- CRITÉRIO OBRIGATÓRIO:
- Prolactina sérica: superior ao limite de normalidade para o método de dosagem utilizado;
- CRITÉRIOS ADICIONAIS (presença de, pelo menos, 1 desses critérios):
- Ressonância Magnética Nuclear ou Tomografia Computadorizada de hipófise demonstrando macroprolactinoma;
- Ressonância Magnética Nuclear de hipófise demonstrando microprolactinoma associado à clínica de hiperprolactinemia ou hipogonadismo;
- Ressonância Magnética Nuclear de hipófise normal, associada à clínica de hiperprolactinemia ou hipogonadismo.
CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
- Hipotireoidismo primário como causa da hiperprolactinemia;
- Hiperprolactinemia secundária a medicamento;
- Gravidez como causa de hiperprolactinemia;
- Insuficiência renal ou hepática;
- Hipersensibilidade aos medicamentos preconizados;
- Hiperprolactinemia por compressão da haste hipofisária (pseudoprolactinoma).
TRATAMENTO
- HIPERPROLACTINEMIA MEDICAMENTOSA:
- Suspender ou substituir o medicamento por fármaco alternativo:
- Quando se tratar de neurolépticos ou antidepressivos, deve-se discutir com o psiquiatra a possibilidade da troca por um outro medicamento que não cause hiperprolactinemia, ou a redução da dose administrada do medicamento em questão. O uso de agonista dopaminérgico deve se limitar a casos bem específicos, quando não há alternativas terapêuticas, sempre de comum acordo e acompanhamento com o psiquiatra.
- Para pacientes sintomáticos, em que o medicamento não pode ser suspenso, uma alternativa a ser considerada é a reposição de estrógeno/progestestona ou, ainda, bifosfonado, se houver osteoporose, de acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Osteoporose.
- MICROPROLACTINOMA ou HIPERPROLACTINEMIA IDIOPÁTICA:
- Assintomáticos; mulheres com menstruação regular, galactorréia leve e prole constituída; e mulheres menopausadas com galactorréia leve:
- Geralmente não necessitam tratamento, apenas acompanhamento com monitorização frequente da prolactinemia para detectar aumento de massa, a cada 6 meses nos primeiros 2 anos e, após, anualmente;
- Sintomáticos:
- Objetivo: restaurar a função gonadal e sexual por meio da normalização da prolactinemia.
- TRATAMENTO DE ESCOLHA DOS MICROPROLACTINOMAS:
- Tratamento medicamentoso com agonista dopaminérgico:
- BROMOCRIPTINA:
- Uso reservado para mulheres hiperprolactinêmicas com infertilidade e desejo de engravidar (maior experiência com uso do medicamento em gestantes);
- Posologia:
- Dose inicial: 1,25 mg/dose,VO, após o jantar ou na hora de dormir, 1 vez ao dia, durante 1 semana. Após 1 semana, aumentar a dose para 1,25 mg/dose, VO, 2 vezes ao dia (depois do café da manhã e depois do jantar/hora de dormir). Incrementos da dose de 2,5 mg podem ser realizados a cada 3-7 dias, até chegar à dose desejada, que varia de 5-15 mg/dia (geralmente não ultrapassa 7,5 mg/dia);
- Manutenção: 2,5-15 mg/dia (geralmente < 7,5 mg/dia), VO, 2-3 vezes ao dia.
- Apresentação:
- Comprimidos: 2,5 mg.
- Efeitos adversos: náusea, vômitos, cefaléia, tontura e hipotensão postural.
- CABERGOLINA:
- Agonista específico do receptor D2 da dopamina;
- Medicamento de primeira escolha para a maioria dos pacientes (menos efeitos colaterais)
- Posologia:
- Dose inicial: 0,25 mg/dose, VO, 2 vezes por semana ou 0,5 mg, VO, 1 vez por semana. Incrementos de 0,5-1,0 mg, com intervalo de no mínimo 4 semanas, conforme necessidade, podem ser realizados. Após o incremento, a dose deve ser administrada 2 vezes por semana.
- Manutenção: 1-2 mg/semana (eventualmente > 3 mg/semana até máximo de 4,5 mg/semana), VO, 2 vezes por semana.
- Apresentação:
- Comprimidos: 0,5 mg.
- MACROPROLACTINOMA:
- Objetivo: controle hormonal e redução com controle tumoral.
- TRATAMENTO DE ESCOLHA PARA OS MACROPROLACTINOMAS:
- Tratamento medicamentoso com agonista dopaminérgico (mesmo tratamento descrito acima).
- Durante o tratamento medicamentoso, após normalizados os níveis de prolactina sérica por pelo menos 2 anos e o tumor reduzido em mais de 50% do tamanho inicial, a dose do agonista dopaminérgico pode ser reduzida gradativamente até a menor dose possível. Se o paciente apresentar níveis normais de prolactina após 3 anos de uso do agonista dopaminérgico, associado a marcante redução tumoral, pode-se tentar a suspensão do fármaco. Após a suspensão do fármaco, a dosagem da prolactina sérica deve ser realizada a cada 3 meses no primeiro ano de suspensão do agonista e, após, anualmente.
- MACROPROLACTINOMAS MAIORES E MAIS INVASIVOS:
- Tratamento de primeira escolha é o medicamentoso (mesmo tratamento descrito acima);
- MACROPROLACTINOMAS QUE NÃO RESPONDEM AO TRATAMENTO MEDICAMENTOSO (Ausência de redução da sintomatologia, da hiperprolactinemia ou sem melhora do déficit visual (10%):
- Tratamento cirúrgico
- TUMORES AGRESSIVOS OU PROLACTINOMAS MALIGNOS NÃO RESPONSIVOS AOS AGONISTAS DOPAMINÉRGICOS E À CIRURGIA:
- Tratamento radioterápico.
- DEMAIS CASOS:
- Somente necessitam de tratamento os pacientes com sintomatologia decorrente de hiperprolactinemia (infertilidade, galactorréia relevante, alterações do desenvolvimento puberal ou hipogonadismo de longa data).
- Mulheres com hiperprolactinemia leve, ciclos menstruais regulares e desejo de engravidar necessitarão também de tratamento.
TRATAMENTO EM SITUAÇÕES ESPECIAIS
- GESTANTES:
- Todas as gestantes, independentemente do agonista dopaminérgico em uso, devem ser expostas ao menor tempo de uso, principalmente no primeiro trimestre da gestação.
- GESTANTES COM MICROPROLACTINOMA OU HIPERPROLACTINEMIA IDIOPÁTICA: o agonista dopaminérgico deve ser suspenso quando confirmada a gravidez.
- GESTANTES COM MACROPROLACTINOMAS: manter o tratamento com agonista dopaminérgico (bromocriptina preferivelmente à cabergolina) nos tumores com maior chance de crescimento ou suspender o medicamento e monitorizar cuidadosamente a paciente (principalmente em relação aos sintomas de expansão tumoral: cefaléia ou defeito de campo visual).
TEMPO DE TRATAMENTO
- O tempo mínimo de tratamento dopaminérgico é de, pelo menos, 2 anos.
- A suspensão do medicamento pode ser segura em pacientes com longo tempo de normalização da prolactina sérica e sem evidência de tumor na Ressonância Magnética Nuclear.
MONITORIZAÇÃO
- MICROPROLACTINOMA OU HIPERPROLACTINEMIA IDIOPÁTICA:
- PROLACTINA SÉRICA: uma vez normalizado os níveis séricos de prolactina, a dosagem de controle é anual. Se os níveis de prolactina sérica não se normalizar, deve-se aumentar a dose do agonista dopaminérgico prescrito e, na ausência de resposta, substituí-lo por outro agonista dopaminérgico.
- MACROPROLACTINOMA:
- A redução tumoral pode ser vista em 1-2 semanas após introdução do agonista dopaminérgico (mas pode ser mais tardia em alguns pacientes);
- PROLACTINA SÉRICA: dosar 2-3 meses após iniciado o tratamento com agonista dopaminérgico e repetir periodicamente de acordo com a evolução do paciente.
- RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR: deve ser realizada 2-3 meses após iniciado o tratamento com agonista dopaminérgico e repetir periodicamente de acordo com a evolução do paciente.
- APÓS A SUSPENSÃO DO TRATAMENTO COM AGONISTA DOPAMINÉRGICO:
- PROLACTINA SÉRICA: deve ser dosada a cada 3 meses no primeiro ano de suspensão do agonista e, após, anualmente.
- RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR DA HIPÓFISE: após a suspensão do agonista dopaminérgico, deve ser realizada a Ressonância Magnética Nuclear se os níveis de prolactina sérica voltarem a ficar acima do limite superior da normalidade.
- ECOCARDIOGRAMA TRANSTORÁCICO: deve ser realizado antes do início do tratamento com CABERGOLINA e durante o seguimento, a critério médico, visando detectar valvopatias, calcificação valvar aórtica e regurgitação tricúspide.
TERMO DE ESCLARECIMENTO E RESPONSABILIDADE (TER)
É obrigatório informar ao paciente ou a seu responsável legal dos potenciais riscos, benefícios e efeitos adversos relacionados ao uso dos medicamentos preconizados neste protocolo. O TER é obrigatório ao se prescrever medicamento do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF).
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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